Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto Fabiana, ela conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno, nome que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.
Seu Borges: Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Seu Borges: Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Fabiana: In a hurry!
Seu Borges: Saúde.
Fabiana: Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
Seu Borges: E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
Fabiana: O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
Seu Borges: Não, não.. Cópias normais mesmo.
Fabiana: Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
Seu Borges: Fabiana, desse jeito não vai dar!
Fabiana: E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
Seu Borges: Como assim?
Fabiana: É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
Seu Borges: Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.
Fabiana: Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
Seu Borges: Futuro? Que futuro?
Fabiana: É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
Seu Borges: Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
Fabiana: Sei. Mas o senhor é hands on?
Seu Borges: Hã?
Fabiana: Hands on....Mão na massa.
Seu Borges: Claro que sou!
Fabiana: Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.
Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!
Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática, energia, criatividade e estava fazendo pós-graduação...só que não sabia nem abrir o capô.
Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.
Max Gehringer
Colunista da Revista EXAME
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